É (negativamente) incrível como a
nossa atual sociedade quer nos ensinar a abrir mão da nossa própria
subjetividade. São “dicas” de comportamento, relacionamento, sexo, alimentação,
criação e educação de filho, vestuário, cabelos, etc. É como se fossemos, a
todo instante, persuadidos a existirmos feito robôs fabricados em série,
desprovidos de qualquer tipo de peculiaridade comportamental e existencial. Até
mesmo aqueles que querem fugir dos padrões, acabam sendo catalogados,
carimbados e etiquetados. Tudo aquilo que foge ao dito “normal”, é doença,
transtorno, distúrbio, tem mil medicações, dicas, regras. Isso quando não acaba
sendo gourmetizado, “cool”.
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A humanidade lutou – e luta –
tanto para conseguir a liberdade, mas será que essa liberdade é real? Até onde
aquela crise dos ideais românticos e do surgimento do Regime Disciplinar está
se repetindo na nossa sociedade? Até onde o “normal” é desprovido de interesses
mercadológicos? Pensamos que somos livres, que mandamos em nossos próprios narizes e que nossas escolhas são feitas única e exclusivamente com base no que desejamos, mas em qualquer canto há uma câmera
nos vigiando (em nome da "segurança", claro!), alguém nos apontando e comentando, algum ouvido registrando
nossos ruídos; se não seguirmos as infinitas cartilhas comportamentais e
emocionais, não somos dignos de aceitação; se seguimos o que queremos, somos
classificados e encaixotados do mesmo jeito. E pior ainda: quando seguimos as normas e acabamos rompendo com os padrões, somos duplamente desclassificados, julgados e classificados, como se fossemos verdadeiros traidores.
Creio que a morada da verdadeira
liberdade seja dentro de nossas mentes e de nossos corações, onde câmera
nenhuma enxerga, onde ouvido nenhum escuta, onde limites não habitam. E essa
liberdade só passa a existir genuinamente a partir do momento em que tomamos
consciência do verdadeiro significado da palavra Liberdade, que não significa
passar por cima dos outros feito tratores egoístas e ambiciosos (o nome disso é
falta de respeito ou defesa); para que ela exista, é necessária a consciência
do respeito, do altruísmo, compaixão, igualdade; a partir daí, nos damos conta
de que realmente somos todos iguais, suscetíveis aos mesmos fenômenos, temos as
mesmas necessidades básicas, todos temos nossos monstrinhos internos, nossos
pensamentos inescrupulosos, nossos desejos transgressores, e a única coisa que
diferencia o que a sociedade chama de “loucos e normais” é a coragem que alguns
têm em simplesmente optarem por não vestir a máscara antes de sair de casa
(lógico, exceto em casos de patologias). Tal consciência, faz com que, dispondo
da liberdade, não ultrapassemos os limites existenciais dos demais nem abramos
mão de nossa própria existência em função do “encaixe” na “normalidade”.
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