segunda-feira, 9 de abril de 2018

Crônicas do Cotidiano XXIII - "Observations broken into lines"

A perna chacoalha, o cenho franze, a raiva chega a galope, a adrenalina é descarregada, o coração abre a janela e a decepção dá o ar da graça, sorri, e ao espreguiçar, a tristeza vem em tsunami.
Silêncio.


Tu, tu, tu, tu... A ligação sempre cai. O sinal sempre falha. O fio não alcança. A Torre derrete.


O guarda-roupa espera terminar de ser organizado.


A caneca continua quebrada.


O urso continua rasgado.


O relógio continua andando.


A vida lateja, inflamada e dolorida, tal qual a laceração na derme e epiderme.


O vômito de palavras nem sempre traduz fidedignamente a verborragia eloquente de tantos sentimentos concomitantes.


Os olhos pesam. O cigarro chama. O corpo não obedece. A cabeça é refém do coração. O coração encontra-se pior que rua em final de feira.


A vida não pára.
Nem fodendo. Nem no celibato.
Ela não pára

sexta-feira, 2 de março de 2018

Crônicas do Cotidiano XXII - Sobre a boca que dorme.

     A boca dormente, as palavras tentando encontrar seus lugares nas frases, os sentimentos borbulhando e digladiando-se, tentando em vão sair de dentro do peito.

     Gostaria que cada vez que pressiono as teclas, elas pudessem fazer com que essa salada de sentimentos e pensamentos – que, em analogia, seria como uma salada com alface, cebola, feijão, macarrão, molho de mostarda, leite condensado, uva passa, alho, queijo ralado, granulado de chocolate, rúcula, maionese, couve, Nutella, banana e manteiga - pudesse sair aqui de dentro e me dar pelo menos um pouquinho de paz e sossego no coração e na cabeça. 

     Hoje, na aula, ouvi uma frase que fez muito sentido; algo como "substituir a culpa pela responsabilidade traz a aceitação e consequentemente o alívio de se livrar da culpa". Puta que pariu! E quando não consigo encontrar onde está a minha responsabilidade na desordem? E quando a desordem é filha de um outro que simplesmente a abortou no meio da rua, com placenta e tudo, e foi embora, deixando ecoar no vento que eu sou dramática por me impressionar e incomodar com a cena e me recolher dentro da minha ostra? 

     Aí vem a indignação diante da qualificação atribuída pelo outro, a angústia de gritar para que um surdo ouça, acenar para um cego, tentar explicar a quem não tem disposição de ouvir nem compreender. É como se tentasse colocar meu pé 39 em um sapato 35. Exasperante! Não importa o quanto eu grite que dói e não cabe, sempre é drama e manipulação. Quando na verdade, só dói, porque meu pé não cabe naquele sapato e não porque quero outro mais caro ou porque minhas unhas ficarão borradas.



     O grito de dor é sempre um pedido de ajuda, e é tenebroso quando além de não ser escutado, é classificado como algo supérfluo e fútil ou pior: como manipulação. Mas creio que eu tenha criado o terreno para que o grito seja visto dessa forma, pois aprendi a me calar quando algo dói, incomoda, sai de lugar, cai no dedinho do pé. Aprendi a guardar dentro da ostra, porque as vezes nas quais tentei compartilhar, sempre saiu daqui como o compartilhamento de uma dor, mas chegou como frescura e atitudes de gente mimada; o maldito telefone sem fio, feito com caixinha vazia de Yakult e barbante, que deixa informações perdidas no meio do caminho e distorce as palavras. Me vi tendo que optar por tentar desfazer todo e qualquer mal-entendido causado pelas falhas na comunicação, ou simplesmente me calar, e foi pelo que optei, como quando alguém em surto psicótico é dopado, ao invés de ter a oportunidade de falar sobre seus delírios a fim de que sejam compreendidos e contextualizados; tal qual a do louco, minha credibilidade, minhas falas, meus porquês sempre foram anulados. Talvez, essa mania de esmiuçar o que se passa aqui dentro, saia daqui como uma maneira de manter por perto quem me importa, de explicar o que se passa e dizer que nem sempre ajo por maldade ou qualquer outra motivação que possa machucar, mas chega como manipulação, como uma espécie de preparação de um terreno para que um grande golpe seja bem sucedido; e não importa o quanto eu tente, sempre é em vão, sempre os significados das falas se perdem no meio do caminho. 


Talvez seja hora de calar.

A boca dorme e a cabeça acorda.


A boca dorme e o coração chora.


A boca dorme e o ser - existir - dói.


A boca dorme.

Talvez seja hora de calar.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Crônicas do Cotidiano XXI - Sobre estar cansada

“Se eu não tenho o que quero, me sinto só e triste. E se eu tenho o que eu quero, tenho certeza de que irei perder. E a espera é insuportável” essa madrugada, assistindo Flores Raras e pensando em tudo o que aconteceu na última semana, essa frase da Bishop me descreveu perfeitamente. E eu ainda acrescentaria que acabo fazendo tudo o que estiver ao meu alcance para antecipar a perda e findar a espera.
Imagem

Escolhi esse filme porque me identifico com a sensação de não-pertencimento a alguém e/ou a algum lugar que a Bishop tem. Essa coisa imensa, que é tão grande e tão vazia que não cabe dentro de si e acaba escorregando para uma folha de papel, e, no caso dela, para um copo com whisky. No meu, para comprimidos que me colocam para dormir e me levam a uma temporária não-existência, que acalma a aflição de me sentir solta e vazia, feito um daqueles balões de hélio, que têm aquela forma extravagante, brilhante e chamativa, mas dentro de si, têm um vazio tão grande que chegam a ser mais leves do que a gravidade e voam alto até explodirem e, definitivamente, deixarem de existir e logo virem outros para o substituírem.
É um vazio tão meu e tão repleto de monstros enjaulados e fortemente acorrentados a bolas de ferro, que me faltam palavras para transpor a sensação à compreensão. É um esforço imenso para manter todos devidamente enjaulados; às vezes, dá a impressão de que as jaulas cederão e todos serão libertos, para me consumirem e me fazerem explodir e simplesmente deixar de existir. Antes, me causavam uma dor profunda. Hoje, me cansam profundamente, me levam à exaustão diante de gatilhos ínfimos, pois são anos tentando mantê-los contidos e longe de mim de das pessoas pelas quais mais sinto carinho. Ainda assim, vez ou outra, escapam e causam estragos extremamente dolorosos. Me sinto impotente diante de mim mesma.
Sempre tento fazer vista-grossa para esse esforço diário, mas há momentos em que simplesmente esmoreço diante de mim mesma, derreto na frente do espelho e meu reflexo permanece impávido, me observando do alto de seus 1,73m, balançando a cabeça em sinal de reprovação. Nesse momento, sinto vontade de ser absorvida pelo chão, desaparecer e deixar apenas que meu reflexo exista, pois ele é mais forte que eu; sobrevive dentro do vidro, não pode ser tocado, pois o vidro o protege, não sofre nem sente nada. É fruto da refração da minha forma externa, sem todo o tormento e cansaço internos.
Já tentei e quis muito tirar minha vida, mas a impressão que tenho é a de que continuarei vivendo nessa trincheira mesmo depois de não ter mais domínio sobre meu corpo físico; é maior, vai além. Sinto que continuarei sendo acompanhada por cada uma das jaulas pesadas, enferrujadas e que porcamente detêm esses inquilinos indesejados que nasceram comigo e me acompanham.
Minha sensação, hoje, é de cansaço. Mas não aquele cansaço que faz sentir vontade de desistir. Cansaço daqueles de quando fazemos movimentos e esforços repetitivos, cansaço oriundo da repetição e de se ter atingido o limite e ainda assim continuar sendo insuficiente. Cansaço de saber que tenho apenas 24 anos e uma vida pela frente para continuar correndo entre jaulas, verificando fechaduras, trocando grades e correntes, afim de manter esses monstros detidos e contidos. Talvez, não seja “cansaço” a palavra, mas sim uma imensa desilusão diante da impotência.

Vai ano, vem ano e sou sempre a mesma pessoa suada e descabelada, a mesma carcereira incapaz de controlar os detentos, por maior que seja o esforço. Trabalhando 24h, sem férias, sem folga, sem descanso.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Crônicas do Cotidiano XX - Os 4 capítulos e o reinício de um ciclo


“É fevereiro (fevereiro!), tem carnaval (tem carnaval!)”

Primeiro, te fiz crer que Deus havia lembrado de ti ao me colocar em teu caminho. Fui frio na barriga, noites em claro trocando mensagens, o sorriso bobo diante da mensagem às 5 da manhã, o flerte gostoso, que foi, aos poucos, mostrando as coisas boas, tanto daí, quanto de cá. Fui a sakura florida na saída do metrô Liberdade, que confere cor, leveza e encanto aos corações apressados e aos passos rápidos no concreto da calçada, que muitas vezes massacram um broto de flor em alguma rachadura sem sequer perceber.



“Tipo passarinhos, soltos, a voar, dispostos a achar um ninho”

O outono chegou, o vento apertou e algumas flores foram embora, deixando alguns galhos mais secos à mostra. Tudo bem, afinal, sou humano e você já esperava tais partes não tão floridas, coloridas e cheirosas e me senti à vontade para compartilhar algumas insatisfações, alguns traumas, algumas partes desagradáveis; me senti à vontade para pedir apoio quando o All Star machucou o calcanhar. Mas ainda havia aquele encanto, de perceber que não há perfeição. O rosa das flores ainda sobrepunha o marrom dos os galhos secos.



“Ele também é humano”

Junto com o vento frio do inverno, veio o céu nublado, a garoa e as flores foram todas embora. Os transeuntes entram e saem do metrô, embaixo de seus guarda chuvas, esbarrando uns nos outros, pisando em poças d’água e xingando por terem molhado seus sapatos. A sakura perde seu brilho e passa a ser só mais um amontoado de galhos secos que ganham destaque no contraste com o céu nublado. Algumas gotas de chuva fazem morada em minha barba. A beleza escorre pelo meio fio e se perde na primeira boca de lobo, levando algumas bitucas e restos de papeis de bala consigo.



“Não quero problemas”

Isso não se referia somente a relações problemáticas, mas a problemas cotidianos, àquelas casquinhas de feridas antigas e ainda doloridas, aos arranhões do dia a dia, aos incômodos, a qualquer coisa que pudesse caber na caixinha de ‘problemas’ – e os meus, óbvio, sempre eram menores, não mereciam atenção, pois eu reclamava da angústia que sinto quando tiro a barba e você sempre me lembrava das pessoas na hemodiálise. Nunca vi tanta necessidade nem urgência em seguir à risca o indicado pelo pronome “meu”, ao falar de ‘meus’ problemas. Sempre pensei que quando a gente procura alguém para contar o que nos aflige, é porque confiamos e queremos nos sentir acolhidos. Mas não com você, que faz sempre questão de me empurrar do ninho e manda aquele “voa logo e não me incomoda piando, que tenho mais coisas na vida a serem feitas”. Era primavera. O piado era de alegria por ter tantas flores ao redor de si e compreender que mesmo aquelas flores que não eram tão perfeitas, também tinham sua beleza e também tinham seu perfume.



“O sol, céu azul e calor me fazem agradecer a vida”

Ahhhh, o verão... A areia fina entre os dedos dos pés, o barulho do mar, o coração feliz, as diferentes tonalidades de pele à mostra, a impressão de que tudo havia acalmado e a resignação diante de adaptações, afinal, ninguém tem obrigação de me acolher e me compreender; se estou mal – quem ESTOU? – é uma responsabilidade única e exclusivamente MINHA; para que e por que procurar dividir com a pessoa que um dia me disse que eu havia sido o motivo de seu sorriso bobo e que não me queria somente quando eu estivesse bem, mesmo que desejasse que eu estivesse sempre bem?
No verão, a gente sorri com o choro entalado, concorda com vontade de gritar o quanto realmente discorda, agradece a vida mesmo sentindo vontade de mandar Deus se foder. No verão, a gente bate o dedinho na quina do móvel de ébano e sorri ao invés de xingar até a terceira geração do marceneiro. No verão, a gente encarna a persona da Amélia, sorri e acena, pede perdão antes de errar, muda a anatomia da garganta para poder caber o nó sem fazer chorar. No verão, tudo é lindo; seja por estarmos apaixonados, lendo e ouvindo aquelas frases que nos fazem sentir o homem mais especial do mundo, seja porque nos deixamos cativar pela raposa no verão passado, seja por termos aprendido a amar nossa rosa e todos os seus espinhos.



Imagem

domingo, 2 de julho de 2017

Crônicas do Cotidiano XIX - Redefinindo Configuraçoes

Depois que minha Mel me deu adeus, atribuí nova importância aos fatos da minha vida, às relações, ao tempo e à vida.
O que é um ego ferido diante de um coração dilacerado? Nada.
O que é uma relação de mão única? Pura perda de tempo.
O que significa um abraço? O coração do outro batendo junto ao meu, dividindo a dor ou a alegria. 
Quem são amigos? Aqueles que te fazem gargalhar no segundo dia mais doloroso da sua vida.
O que é o ciúme, diante do verdadeiro amor? Pffff....

Precisei dessa perda para poder compreender que a vida, as relações e os sentimentos são muito maiores do que sempre enxerguei; para compreender que uma migalha será sempre uma migalha, pertencente ao chão e hóspede da sola do sapato, que também a destrói; que amigos são aqueles que, mesmo nesse frio de 11°C de Sampa, conseguem me fazer sentir o coração quentinho, seguro e aconchegado; que o amor sempre vence o medo e os traumas; que o carinho, às vezes, vem de onde menos se espera; que a dor é opcional, pois uma perda pode ser vista como libertação.

A vida é rica e preciosa demais para ser desperdiçada com coisas e pessoas pequenas.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Schmutzige Tänzer

Bar à meia luz, fumaça de cigarro, cheiro de bebida barata e mesas de madeira, meio úmidas, acompanhadas por cadeiras igualmente úmidas e velhas, compõem o cenário do show.
Todas as luzes são apagadas e, após três segundos, somente um foco de luz amarelada surge em cima do balcão imundo e engordurado, repleto de marcas de copos. Dali, aparece uma sapatilha, rota e suja, com o gesso à mostra. Ao fundo, Sugarplum Fairy tocando no gramofone empoeirado.
Ela sobe naquele balcão e dança. Dança como se fosse a prima ballerina do Bolshoi. Ela sente-se assim.
Seus cabelos estão desgrenhados, caindo do coque, escorregando entre os olhos e grudando em sua pele oleosa, entrecortando seu olhar melancólico, cor de esmeralda, com cílios imensos e rímel vagabundo passado de qualquer jeito, esfarelando.
Em seu pescoço, é possível observar a jugular pulsando. Sua boca está seca e rachada.
Lágrimas misturam-se à face oleosa e somem nas rachaduras de seus lábios.
Sua dança é lenta, dolorosa, árdua. Feito as músicas de Maysa.
Em um momento de ilusória alegria, durante seus fouettés, sente algo em suas pernas. Quente. Espesso. Não se preocupa em saber do que se trata, pois sua sensação de plenitude não a permite desviar o foco.
Uma mão a toca na panturrilha. Imediatamente, ela para.
Mãos grandes, dedos finos, unhas compridas, arredondadas e vermelhas. Toque carinhoso.
            - Desça. – Diz aquela mulher com chapéu preto e cachos dourados que vão até a cintura.
Ela desce, cabisbaixa, esboçando um sorriso, com o canto da boca trêmulo e sem fazer contato visual – pois não?
            - Vamos. – Cochicha, a envolve em um sobretudo preto, abraçando-a por cima dos ombros e andando em direção à porta, com passos largos, do alto de um Louboutin de 15cm.
Nesse momento, ela olha para trás e percebe o rastro de sangue atrás de si e os risos de escárnio que foram silenciados pela eloquência e entrega dela à dança.



Sim, ela estava indo embora. Mas havia deixado, permanentemente, várias marcas de si naquele lugar tão imundo quanto os cantos mais reservados de sua alma, quanto o sangue inútil que seu corpo, mais uma vez, expulsou, cumprindo seu ciclo.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Crônicas do Cotidiano XVII - Massacre

Para tudo, uma dieta, um preconceito – ou devo dizer opinião? -, uma cartilha comportamental, uma ofensinha, uma olhada torta, uma piadinha de escárnio. Parece que quanto mais a espécie “evolui”, mais retorna à selvageria. Mãe pegando faca para filha que, numa brincadeira, diz ser homossexual. Funcionários CLT aclamando governo neoliberal. Estudantes tendo que ocupar suas escolas para terem garantido o direito ao ensino. Abaixo assinados pedindo o fim da morte de animais em testes de produtos de beleza. Carros estacionados em vagas para deficientes. Taxas altíssimas de suicídio. O dólar alto choca mais do que famílias sem comida na mesa. Mulheres hostilizadas e mortas a cada minuto, de formas inimaginavelmente violenta. Crianças e adolescentes mortos pelo crime vistos como lixo que saiu do meio do caminho. Transexuais apedrejadas e mortas, porque na sociedade, “viado não tem vez”. Polícia militar cegando e aleijando cidadãs e cidadãos deliberadamente – e sendo elogiada pelos (de)feitos.

Meio a uma verdadeira diarreia de falsos moralismos, vidas vão se perdendo, dignidade vai sendo dissolvida pelo ácido da engrenagem capitalista, ter opinião virou sinônimo de manifestar descaradamente os tipos mais nocivos – e nojentos – de preconceito.

Rivotril, Sertralina, Fluoxetina, Dizepam, Bromazepam, as balinhas mágicas para auxiliar no controle às dores da alma que não podem ser sanadas, porque fazer terapia – e se permitir simplesmente sentir - AINDA é coisa de louco e descer de cima do muro é um absurdo, girar no sentido contrário é massacrante demais – falar mal de quem o faz e usufruir dos benefícios da coragem destes ainda é mais fácil. Isso sem mencionar a famigerada Ritalina, a droga para “adultificar” as crianças, a droga do bom comportamento, da submissão, da roupa limpa, do silêncio e ordem em casa, da anestesia da falta que a família faz; depois de tanta luta para que a infância fosse compreendida como uma fase do desenvolvimento humano, junto ao capitalismo, vem a necessidade de ter mini adultos em casa, que não demandem tempo nem paciência, pois o tempo urge e é preciso “correr atrás”, porque no futuro, os pequenos, já crescidos, agradecerão a qualidade – financeira -  de vida que lhes foi proporcionada, mesmo que para isso tivessem a infância massacrada.

Imagem

Os sentimentos só são belos nos posts no Facebook, nas músicas e nos filmes, porque na vida real, o que conta é a capacidade de ser indiferente, obediente e disforme – para poder assumir a forma que for mais conveniente e trouxer mais lucro.

Na selva de concreto, cada vez há menos lugar para aquilo que nos torna humanos. Aquela máxima de Nietzsche “torna-te quem tu és”, foi substituída por “torna-te quem for te dar maior lucro e poder”, o que é imensamente triste, porque forma uma sociedade de mentira, pré-fabricada, que não aceita o diferente, não lida com emoções nem sentimentos, ignora as subjetividades. O ser humano conseguiu criar uma sociedade que agride a si mesmo, infelizmente. Foram criados conceitos universais e cristalizados de certo e errado, fazendo com que todos entrassem numa briga insana e eterna para serem “a pessoa certa, no local e hora certos, para a função certa”. Não ser a pessoa “certa”, que está no local e hora “certos” não é errado! É justamente isso que nos faz humanos!

Não sinta - racionalize. Não pense - reproduza. Não aja – obedeça.