Esses dias
me peguei pensando sobre como deve ser mágico conhecer alguém durante a
adolescência, do auge dos 15/16 anos, se apaixonar, viver todo aquele encanto
afobado, desesperado e desajeitado de quando temos tal idade, namorar até a
chegada da idade adulta, noivar, montar a casa, deixa-la com a carinha do
casal, planejar o casamento, a festa, trocar alianças e fazer juras de amor
eterno olhando nos olhos daquela pessoa que mesmo depois de adulta te deixa com
a mesma sensação de quando tinham 16 anos e se apaixonaram, ter as famílias
reunidas para celebrar, saber que dali em diante não se é mais um só, são duas
famílias entrelaçadas, são duas vidas entregues e dispostas a passar por cima
de inúmeras adversidades afim de construírem uma história sólida.
Passa a
festa, vem o dia a dia. As manias, as bagunças, os gostos, as contas, as
sogras, os trabalhos, a irritação, as preocupações, os filhos! Quando os pés
começam a retornar à realidade, eis que chegam eles, pequeninos, frágeis,
dependentes, ladrões de noites de sono e pratos de comida quentes. Nesse
momento, é hora de união, de admirar aquela coisinha mole e sorridente que
nasceu da união, da superação dos perrengues e da divisão de alegrias e sonhos.
Em pouco mais de quatro ou cinco anos, já são dois ou três pequenos correndo
pela casa, jogando bola na sala, desenhando em paredes com giz de cera, fazendo
birra diante da comida no prato, aparecendo no quarto do casal no meio da
madrugada com a carinha amarrotada e os cabelos ouriçados pedindo colo.
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Mais uns 20
anos e lá está a mesa da ceia de Natal. Os filhos e filhas já casados, e
formados. Dois netinhos correndo pela casa, pegando porta retratos da estante e
perguntando aos avós quem são as pessoas, uma filha sentada no sofá com o
barrigão de 8 meses redondinho, sentindo o bebê mexer e pegando o pezinho, a
outra filha servindo as crianças, os genros conversando sobre banalidades do
mundo masculino. Todos sentam-se à mesa e comemoram a chegada de mais um natal,
de mais um ano unidos e aguardando a chegada do novo membro da família.
Ao final da
noite, cada um dorme em um canto da casa, embora todos os quartos ainda estejam
prontos para receber os filhos e filhas quantas vezes forem necessárias. As
crianças, desmaiadas e descabeladas.
Em momentos
como este, creio que as “matrizes” da família devam sentir-se tomadas por um sentimento
inenarrável. Deve ser uma espécie de gratidão, de segurança, de orgulho. Depois
de tantos anos, de tantos acontecimentos, de tantos perrengues e conquistas,
olhar para os lados e ver aquele adolescente por quem se apaixonou e com quem
se casou, já de cabelos brancos, ver os filhos e filhas já com suas próprias
famílias e seguindo suas próprias vidas, voando com suas próprias asas para construírem
seus próprios ninhos... Ah, deve ser gratificante demais construir uma vida ao
lado de alguém que conhece teu melhor e teu pior, que sabe das tuas flores e
espinhos, que não soltou tua mão mesmo quando o vendaval foi forte, que soube
comemorar e festejar as conquistas comuns e individuais.
Pensando e
escrevendo sobre isso, concluo que concordo com uma frase que vi no facebook há
alguns anos e achei absurda: “No meu tempo, quando algo quebrava, a gente não
jogava fora. Éramos ensinados a consertar”. Talvez eu tenha aquilo que chamam
de “Alma Antiga”, talvez eu sonhe com uma vida construída ao lado de alguém com
quem seja possível uma relação sólida e segura, alguém que me permita amar e
que me ame de volta sem restrições, alguém que me faça ter certeza de que por
mais forte que seja a tempestade, nossas mãos não irão se perder, alguém que
tenha a disposição de “consertar” ao invés de “jogar fora”. Talvez eu sonhe
demais, queira demais, sinta demais... Ou talvez não...