Saí de casa
em pleno 1º de janeiro. Andei até a esquina, desci a rua e fui para o ponto de
ônibus. Passava das 20h e não havia uma alma na rua. Geralmente, não sinto medo
ao andar sozinha à noite pelas ruas, mas confesso que fiquei um tanto quanto
petrificada quando olhei para o final da rua e vi um sujeito super “mal
encarado” vindo, andando como se fosse o dono do pedaço, como se fosse um leão
andando em sua jaula, pronto para atacar a qualquer momento. Procurei manter a
calma e ainda me dei uma bronca mentalmente “Não, Gabriela, não julgue as
pessoas apenas pela aparência, com base em estereótipos que te foram ensinados
durante toda a vida. As pessoas são mais do que isso”, mas foi em vão.
Continuei com o cu na mão.
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Quanto mais
o sujeito se aproximava, mais eu procurava me manter calma, mesmo com vontade
de sair correndo, gritando e chorando de medo. Por alguns instantes, achei que
ele fosse atravessar a rua – Fo-deu, pensei – mas ele não o fez e eu suspirei
aliviada. Nessa hora, vi que havia uma senhora na garagem de casa, com seus 500
gatinhos, falando ao telefone. Caso algo me acontecesse, eu teria a quem gritar
por um “help”.
Depois que
o cidadão mudou de quarteirão e seguiu seu rumo, fiquei mais calma, mas ainda
com medo. Nesse momento, alguém soltou um cachorro preto e grande para dar uma
volta na rua e mijar a cada metro que andasse. O cão andou pelo quarteirão e
veio até mim. Lógico que estiquei a mão e falei fininho com ele. Meio
assustado, veio me cheirar – me revistar, na verdade – e eu achei a coisa mais
doce do mundo. Fiz carinho no rostinho dele e parei, foi quando ele esfregou a
carinha na minha perna, com as orelhinhas para trás e o rabinho balançando,
como quem dizi
a “faz mais”. Sorri e fiquei fazendo carinho nele, que após
alguns instantes, saiu de perto, foi até o meio da rua e voltou, permanecendo
ao meu lado.
Vi meu ônibus
na esquina do quarteirão da frente. Suspirei aliviada.
Quando o
ônibus parou, me despedi do meu colega e entrei. Ele só foi embora depois que o
ônibus saiu.
Quem me
conhece, sabe que não sou nada muito religiosa. Tenho minha crença no
amor universal, no respeito, na compaixão e na sinceridade; creio num Deus
diferente do Deus mau que a Bíblia prega, que castiga e pune 24h/dia. O meu Deus é puro amor e compaixão.
Enfim, não vem ao caso minha crença. O que queria dizer é que quando fiquei
morrendo de medo, sozinha na rua escura, pedi a Deus que ficasse ao meu lado, e
foi quando apareceu meu coleguinha pretinho, peludo, que ficou comigo até que
eu embarcasse na lata de sardinha, digo, ônibus.
Fiquei
emocionada, com os olhos cheios de lágrimas. Enxerguei tal situação como um bom
presságio, como se fosse a vida me dizendo para ter calma, que esse ano seria
repleto de surpresas e bons sentimentos, que por mais que parecesse que as
coisas boas estivessem a milhas de distância, elas estão a menos de um palmo da
ponta do meu nariz, basta saber enxergar e valorizá-las.
Obrigada
natureza, obrigada meu Deus,
obrigada amiguinho pretinho e peludinho que me fez companhia e me pediu carinho
esfregando o focinho na minha perna.
Mais uma
vez, sou grata à vida e suas surpresas.
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