quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Crônicas do Cotidiano IX - Febre, Flores e Quadros Indolores

            Há alguns dias, estava mexendo no bloco de notas do celular e me deparei com o seguinte: “amar em terceira pessoa é fácil -> escrever sobre”. A única coisa que consigo lembrar é que essa anotação foi feita antes de dormir em alguma noite que já se perdeu no tempo e levou consigo o que eu tinha a dizer sobre “amar em terceira pessoa ser fácil”. Simplesmente não consigo estabelecer algum tipo de conexão com a frase e meus sentimentos, o que torna impossível escrever.
            Mas como cabeça de aquariana é um poço de devaneios, decidi escrever sobre como estou me sentindo após uma febrinha de 38,7 º. Acho que nunca senti tanto frio assim. Não sabia se me cobria, se tomava um banho escaldante, se tomava antitérmico ou se chorava (sim, estava com tanto frio e dor no corpo que deu uma puta vontade de chorar). Optei pelo banho escaldante e meus cobertores. Óbvio que a febre não cedeu e tive que tomar um antitérmico e esperar pacientemente.

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            Conforme a febre foi cedendo, senti como se ela levasse embora de mim inúmeros sentimentos que o tempo tornou obsoletos, que ficarão apenas em minha memória, como pétalas desbotadas e sem perfume, colocadas num quadro pendurado na tal “parede da memória”, mas sem doer. Sim, sem doer... essa é a parte mais fascinante. Nunca me passou pela cabeça ter quadros indolores nessa parede. Todos os que até agora foram pendurados nela, me fizeram sentir como se tivessem sido brutalmente arrancados de dentro do meu peito e pendurados ainda pulsando, morrendo lentamente, numa espécie de niilismo existencial.
            Agora, entre Halls menta-prata, Sam Smith, Marlboro Gold e uma tosse hiper chatinha, consigo sentir meu corpo mais leve e meu coração limpo, florescendo novamente entre brincadeiras bobas, gargalhadas, apelidinhos escrotinhos, caretas, coices e ternura.
            Me sinto leve e livre. Sem febre, sem dor, sem quadros com sentimentos amputados pendurados na parede, sem pesar, sem temor.

                                   Me sinto em paz.

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