Naquela sala à meia luz, sentada no
tapete, ao lado do cinzeiro de prata e do copo com whisky, se perdeu nas curvas sinuosas da fumaça que tocava seu rosto e irritava os olhos. A regravação de
Feeling Good, por Avicii, ecoava por todo o ambiente, reverberava os quatro
cantos de sua mente – sim, naquele momento ela se sentiu com a mente totalmente
quadrada, hermeticamente fechada, sem saída, sem luz, sem ar fresco; com o
mesmo cheiro de whisky, cigarro e casa fechada que estava em sua sala.
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Flashes em câmera lenta, cenas
movendo-se em sua mente na mesma velocidade e intensidade da voz pastosa do
vocalista. Imagens esvanecidas, com os tons das fotografias dos anos 70.
Sorrisos, abraços, brincadeiras, lágrimas, brigas, reconciliações, esperanças
chocando-se com a realidade de algo doentio que há poucos dias ainda era
chamado de presente.
Retornou à realidade, pegou o copo e
tomou os três dedos de whisky que encharcaram todas essas lembranças, borraram
todas as imagens, deixando algo confuso, atemporal. Recolheu calmamente - com
as pontas de seus dedos finos, compridos e gelados, com esmalte descascando -
do tapete a bituca e jogou dentro do cinzeiro, acendeu outro cigarro, andou até
a janela e pode ver os carros indo e vindo na Avenida Paulista; borrões
vermelhos e brancos, na verdade, porque a miopia e o álcool levaram embora a
nitidez das imagens – e dos sentimentos, também.
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