sexta-feira, 8 de julho de 2016

Estátua

Fria, de mármore, feição impassível, estática. Não respira, não pisca, não se move, não erra nem acerta, não vive! Absorveu cada pancada dada enquanto esculpida e se trancou dentro do mármore e de sua frieza.
Observa tudo, percebe cada detalhe mas permanece em silêncio.
Sente, absorve, memoriza. Não se move.
Tem olhos cegos (física e emocionalmente), orelhas que não escutam, pele que não sente (só retribui afeto com frieza), nariz incapaz de sentir qualquer tipo de aroma, boca incapaz de proferir qualquer vocábulo (muito menos retribuir o toque de outra boca).
Reverbera com todo seu corpo cada palavra dita ao seu redor, se esconde ao mesmo tempo em que mostra sua superfície – lisa e fria - a quem quiser ver e até tocar.

Mesmo rodeada, admirada e cobiçada, vive a mais fodida genuína de todas as solidões: aquela pela qual optou.
Não aceita aquilo que oferece. Interpreta como maus tratos o que oferece como proteção.
É, realmente, uma estátua: desprovida de cérebro e de coração. Apenas uma imagem semelhante à de um ser humano, porém sem coração nem cérebro, incapaz de sentir e processar. Apenas existe porque foi criada, esculpida pelas cobras na cabeça de uma Medusa de alma atormentada, perdida e barulhenta - com a qual, vale dizer, identificou-se um dia.
Filha do sentimento distorcido e incapaz de se mover em direção à versão pura de todo o sentimento que motivou sua criação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário