Depois do
abraço, o cheiro continua envolvendo o corpo. É como se um pedaço da pessoa
permanecesse conosco mesmo após a partida. Dá uma sensação de conforto, de
colo. Traz carinho ao coração, mantém viva a vontade de cuidar, de querer ter
por perto, de encher de beijos, de acariciar a face e beijar a boca com
ternura, com entrega. Basta fechar os olhos para poder reviver cada segundo
dentro do abraço, ouvindo a respiração, a temperatura dos corpos, sentindo os
corações batendo juntos, os rostos colados, as mãos apertando, sentindo o corpo
do outro.
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Vejo o “depois
do abraço” análogo ao “depois do café”. O gosto permanece na boca tal qual a
sensação do corpo a corpo permanece no sistema sensorial. Assim como a bebida
permanece dentro de nosso corpo, um pedacinho do outro também permanece dentro
do coração; é como se esse pedacinho já morasse aqui e o abraço viesse para
regá-lo. O aroma do café permanece no ar por algum tempo, assim como o cheiro
do outro sutilmente envolve as narinas. Da mesma forma que alguns fecham os
olhos para, ao privarem-se de demais estímulos, sentirem melhor o gosto do
café, durante o abraço os olhos também são fechados a fim de sentir a alma do
ouro. A xícara, como alguns fios de cabelo, mantém fresca a memória, atestando
a veracidade do encontro, seja dos corpos, seja do lábio com o café.
Talvez,
para os outros, o abraço sempre tenha tido esse significado que hoje tem para
mim. Confesso que sempre fui meio avessa a qualquer tipo de toque, de proximidade.
Sempre fiz com que detalhes – como o cheiro da pessoa, os fios de cabelo, a
respiração, a sensação de estar nos braços de alguém – passassem em branco. Sempre
tive medo de ser tocada. Nunca me senti bem ao permitir que vissem, logo de
cara, os arranhões e as feridas que trago aqui dentro. Talvez porque nunca
tivessem olhado com cuidado e respeito, mas com ímpeto de “curar”.
Sou grata
ao tempo e às circunstâncias que me trouxeram essa nova percepção acerca do
abraço.
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