Chegou à
igreja. As portas já haviam sido fechadas. Podia ouvir a música tocar e sentir o
perfume dela na escadaria. Enquanto subia os degraus, imaginava que os pés dela
haviam tocado aquele cimento rachado há poucos instantes.
Imagem |
Acompanhou
toda a cerimônia. As palavras do padre reverberando, ecoando, escorregando
pelas abóbadas da igreja assim como lágrimas escorriam por seu rosto.
No momento
da troca de alianças, quando ela virou-se de lado, pôde ver o rosto dela.
Maquiagem leve, boca rosada, aquele olhar melancólico e doce, porém distante.
Pôde ver em slowmotion a aliança
sendo colocada em seu dedo, as mãos trêmulas. Nesse momento, soluçou, não pôde
conter a angústia que brotou em seu peito e saiu como um tsunami de lágrimas e
desespero.
O beijo
selou o compromisso que ela acabara de firmar com outro alguém. Todos
aplaudiram. Abaixou a cabeça e suspirou numa tentativa de recuperar as forças,
se conformar e finalmente deixar aquele local eleito para roubá-la de uma vez
por todas.
“E todos os
momentos que dividimos, todas as farpas que trocamos, os nossos beijos e
abraços apaixonados, as coisas que aprendemos? Morreram aqui, assim,
abruptamente?”, pensou.
Assim que
levantou a cabeça, procurando o caminho de volta para a nova vida – sem ela,
sem os segredos, sem o “nós” – seus olhares cruzaram. Sentiu seu corpo gelar, o
coração acelerar, asminhas mãos suarem e tremerem. Foi como se o tempo parasse.
Se olharam fundo nos olhos, foi como se os olhos dela mostrassem um filme de
tudo o que viveram nos anos em estiveram lado a lado. Deixou o buquê cair no
chão, ficou branca como cera, com os lábios entreabertos.
Chegou em
casa, fechou a porta e gritou. Gritou com toda a alma, com as entranhas, com as
vísceras, com cada célula do corpo. Um grito que misturava horror, medo,
desespero, agonia, saudade, incerteza... Sentou no chão, com as pernas
encolhidas e chorou copiosamente, tentando expurgar a dor de ver aquele ser tão
peculiar, cheio de detalhes grafados na alma, cheio de encantos e curvas casar-se,
unir-se a outra pessoa, a qual não se sabe se será capaz de oferecer-lhe o
devido cuidado, atenção e compreensão. Chorou por saber que havia perdido mas
ainda havia laços que mantinham a união, tecidos a quatro mãos.
Acordou com
o som da campainha. Procurou o celular no meio das cobertas no sofá. Eram 6:43
da manhã. O porteiro não havia interfonado, não estava esperando ninguém e alguém
jamais apareceria a esse horário caso prezasse pela vida. Ao fundo, Sam Smith
inundava o ambiente com Latch.
Foi tateando
os móveis e a parede. Tropeçou nos sapatos e roupas espalhados pelo
apartamento. A campainha tocava incessantemente.
Após
algumas tentativas, acertou a fechadura e abriu a porta.
Era ela.
Não disse
nada. Apenas abriu os braços e olhou daquele jeito doce e perdido que lhe
roubara o coração desde a primeira vez em que se viram. E conseguira roubar
outra vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário