segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Laços

            Chegou à igreja. As portas já haviam sido fechadas. Podia ouvir a música tocar e sentir o perfume dela na escadaria. Enquanto subia os degraus, imaginava que os pés dela haviam tocado aquele cimento rachado há poucos instantes.

architecture, art, beautiful, catholic church, chandelier, church, couple, cute, fashion, hair, light, photography, pretty, window
Imagem
            Entrou. Se escondeu próximo à porta e pôde vê-la de costas. Véu longo, vestido rendado cor de champagne, seus fios claros misturavam-se ao tecido do véu.
            Acompanhou toda a cerimônia. As palavras do padre reverberando, ecoando, escorregando pelas abóbadas da igreja assim como lágrimas escorriam por seu rosto.
            No momento da troca de alianças, quando ela virou-se de lado, pôde ver o rosto dela. Maquiagem leve, boca rosada, aquele olhar melancólico e doce, porém distante. Pôde ver em slowmotion a aliança sendo colocada em seu dedo, as mãos trêmulas. Nesse momento, soluçou, não pôde conter a angústia que brotou em seu peito e saiu como um tsunami de lágrimas e desespero.
            O beijo selou o compromisso que ela acabara de firmar com outro alguém. Todos aplaudiram. Abaixou a cabeça e suspirou numa tentativa de recuperar as forças, se conformar e finalmente deixar aquele local eleito para roubá-la de uma vez por todas.
            “E todos os momentos que dividimos, todas as farpas que trocamos, os nossos beijos e abraços apaixonados, as coisas que aprendemos? Morreram aqui, assim, abruptamente?”, pensou.
            Assim que levantou a cabeça, procurando o caminho de volta para a nova vida – sem ela, sem os segredos, sem o “nós” – seus olhares cruzaram. Sentiu seu corpo gelar, o coração acelerar, asminhas mãos suarem e tremerem. Foi como se o tempo parasse. Se olharam fundo nos olhos, foi como se os olhos dela mostrassem um filme de tudo o que viveram nos anos em estiveram lado a lado. Deixou o buquê cair no chão, ficou branca como cera, com os lábios entreabertos.
            Chegou em casa, fechou a porta e gritou. Gritou com toda a alma, com as entranhas, com as vísceras, com cada célula do corpo. Um grito que misturava horror, medo, desespero, agonia, saudade, incerteza... Sentou no chão, com as pernas encolhidas e chorou copiosamente, tentando expurgar a dor de ver aquele ser tão peculiar, cheio de detalhes grafados na alma, cheio de encantos e curvas casar-se, unir-se a outra pessoa, a qual não se sabe se será capaz de oferecer-lhe o devido cuidado, atenção e compreensão. Chorou por saber que havia perdido mas ainda havia laços que mantinham a união, tecidos a quatro mãos.
            Acordou com o som da campainha. Procurou o celular no meio das cobertas no sofá. Eram 6:43 da manhã. O porteiro não havia interfonado, não estava esperando ninguém e alguém jamais apareceria a esse horário caso prezasse pela vida. Ao fundo, Sam Smith inundava o ambiente com Latch.
            Foi tateando os móveis e a parede. Tropeçou nos sapatos e roupas espalhados pelo apartamento. A campainha tocava incessantemente.
            Após algumas tentativas, acertou a fechadura e abriu a porta.

            Era ela.

            Não disse nada. Apenas abriu os braços e olhou daquele jeito doce e perdido que lhe roubara o coração desde a primeira vez em que se viram. E conseguira roubar outra vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário