Sabe aquela velha frase
clichê “só quem tem um cão sabe o que é amor verdadeiro”? Após os 11 anos e 3
meses mais especiais da minha vida, só me resta a redenção à frase.
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3 anos |
É
um sentimento inenarrável chegar em casa com um serzinho de mais ou menos 15cm
nos braços, ouvir o chorinho, os grunhidinhos, ver aquela coisinha andando toda
desajeitada e caindo sentada, passar pelo menos um ano sem ter os pés
mordiscados, não poder deixar nada no chão caso não queira encontrar danos nos
objetos, encontrar dentinhos pelo quintal, fazer massagem na barriguinha por
conta de cólicas, chegar em casa e dar de cara com aquela coisa barriguda e
desengonçada abanando o rabinho da maneira mais doce e desajeitada possível e
latindo fino e estridente.
Então,
esse serzinho vai crescendo, mudando o latido, andando com mais firmeza,
conseguindo subir no sofá e na cama, roubando comida de cima da mesa,
abocanhando sapatos e correndo como se não houvesse amanhã, nunca mais saber o
que é ter uma cama exclusiva ou ter uma roupa preta que seja de fato preta.
Nos
dias de angústia, é impossível se sentir só; basta olhar para o lado e dar de
cara com aquele olhar que diz “estou aqui, você não está só”, em seguida ter
uma patinha puxando o braço e ganhar várias lambidas nas lágrimas de um
serzinho com as orelhinhas abaixadas e o rabinho freneticamente movendo-se da
direita para a esquerda. Fora os “cutucões” no queixo com o focinho, impelindo
a realmente levantar a cabeça.
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5 anos |
Poder
dividir as alegrias, correr pela casa, tomar banho de sol, brincar de cabo de
guerra, se esconder embaixo das cobertas e ser pisoteada e babada para depois
morrer de rir, poder compartilhar todo e qualquer segredo com a certeza de não
ser julgada ou reprimida, passar exatos 15 min fora de casa e ser recepcionada
como se voltasse de uma viagem ao redor do mundo, acordar com algo gelado
fungando bem no meio da cara, abrir os olhos e ver aquela coisa de olhar doce
abanar o rabinho e explodir de felicidade após um sorriso, são coisas que
realmente só quem tem um cão sabe a sensação.
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6 anos |
Hoje,
olho para o lado e vejo uma senhorinha gorda, desajeitada (não, isso não ficou
na infância canina, ela continua desajeitada igual a mim), com os bigodes
grisalhos e alguns pelos brancos pelo corpo. Toda a agitação dos áureos anos,
hoje transformou-se em calmaria. Os olhinhos ainda brilham, ainda emanam um
amor incondicional, mas estão ficando com a íris – que guarda tantas memórias e
histórias – azulada e opaca. A ração tem de ser mole, pois já não consegue
morder coisas muito duras. Muitas vezes ela dorme um sono pesado e me assusta.
O que antes era algo trivial, como vir correndo e subir na minha cama,
pisoteando meus pés como se fossem de borracha, hoje já não é tão fácil; há
vezes em que tenho de ajudá-la; ela fica em pé, com as patinhas dianteiras na
beirada da cama e me olha com aquele ar de “me ajuda?”.
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7 anos |
É lógico que
eu te ajudo, minha parceira! Te ajudo, te cuido, te mimo, te amo e
sou capaz de qualquer coisa por você! Começamos nossa história
juntas, você cresceu comigo, me deu colo, me impediu de inúmeras burradas com
seu jeitinho doce, me protege até de mim mesma, me trouxe uma alegria que não
sei mensurar, me conquistou por completo com seu chorinho constante e seu olhar
dengoso, com seu jeito preguiçoso. Lambe minhas lágrimas e festeja minhas
alegrias. Como posso não te amar incondicionalmente?
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8 anos |
Hoje,
vivendo a aposentadoria, já velhinha e mais preguiçosa do que sempre foi, ela
me faz ficar com o coração um tanto quanto apertado. Não consigo, por maior que
seja meu esforço, imaginar minha vida sem os pisões que ela dá nos meus pés,
sem seu latido senil ao me ver chegar, sem seus arrotos a um palmo do meu
nariz. Não sei se ainda lembro como é dormir sozinha na cama, sem ter de me
posicionar em forma de “S”. Não consigo mais tomar banho sozinha, sem tê-la
deitadinha no canto mais distante possível do box me olhando com cara de “você
não vai me dar banho, né?”.
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9 anos |
Sou
grata, muito grata ao Universo por tê-la colocado em meu
caminho. Sou grata por ter descido no ponto errado naquele 16 de Agosto de
2004, ter ido ao pet shop e a visto deitadinha, dormindo enroladinha – como
dorme até hoje – e trazido para casa comigo. Sou grata por tudo o que aprendi e
aprendo com ela dia após dia. Sou grata por ela me fazer sentir esse amor
absurdo, que me dá um nó na garganta. Sou grata pela sua confiança. Sou grata
por ela estar sempre ao meu lado, por ser minha “parceira de
crime”, minha preguiça ambulante, meu pedacinho de dengo e manha, minha mocinha
linda, com o olhar mais doce que já tive a oportunidade de ver.
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10 anos |
Obrigada por existir,
minha Flor de Lótus! Obrigada por encher minha vida com poesia a cada latido, a
cada abanar de rabo, a cada manha, a cada olhar terno, a cada gesto de
confiança. Você me faz ser uma pessoa melhor a cada dia. Você me mostra o quão
preciosa é a vida com amor.
Peço que o universo te dê muita saúde e muitos anos
de vida, pois ainda temos muitas coisas pela frente e você vai
sempre comigo, não importa aonde nem como. E mesmo depois que você cumprir sua
missão aqui nesse mundo, tenho certeza que nos reencontraremos e você virá
correndo para os meus braços, como faz desde que chegou em minha vida, todas as
vezes em que chego em casa.
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11 anos |
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