quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Minha Lótus

            Sabe aquela velha frase clichê “só quem tem um cão sabe o que é amor verdadeiro”? Após os 11 anos e 3 meses mais especiais da minha vida, só me resta a redenção à frase.

3 anos
            É um sentimento inenarrável chegar em casa com um serzinho de mais ou menos 15cm nos braços, ouvir o chorinho, os grunhidinhos, ver aquela coisinha andando toda desajeitada e caindo sentada, passar pelo menos um ano sem ter os pés mordiscados, não poder deixar nada no chão caso não queira encontrar danos nos objetos, encontrar dentinhos pelo quintal, fazer massagem na barriguinha por conta de cólicas, chegar em casa e dar de cara com aquela coisa barriguda e desengonçada abanando o rabinho da maneira mais doce e desajeitada possível e latindo fino e estridente.
            Então, esse serzinho vai crescendo, mudando o latido, andando com mais firmeza, conseguindo subir no sofá e na cama, roubando comida de cima da mesa, abocanhando sapatos e correndo como se não houvesse amanhã, nunca mais saber o que é ter uma cama exclusiva ou ter uma roupa preta que seja de fato preta.
            Nos dias de angústia, é impossível se sentir só; basta olhar para o lado e dar de cara com aquele olhar que diz “estou aqui, você não está só”, em seguida ter uma patinha puxando o braço e ganhar várias lambidas nas lágrimas de um serzinho com as orelhinhas abaixadas e o rabinho freneticamente movendo-se da direita para a esquerda. Fora os “cutucões” no queixo com o focinho, impelindo a realmente levantar a cabeça.


5 anos
            Poder dividir as alegrias, correr pela casa, tomar banho de sol, brincar de cabo de guerra, se esconder embaixo das cobertas e ser pisoteada e babada para depois morrer de rir, poder compartilhar todo e qualquer segredo com a certeza de não ser julgada ou reprimida, passar exatos 15 min fora de casa e ser recepcionada como se voltasse de uma viagem ao redor do mundo, acordar com algo gelado fungando bem no meio da cara, abrir os olhos e ver aquela coisa de olhar doce abanar o rabinho e explodir de felicidade após um sorriso, são coisas que realmente só quem tem um cão sabe a sensação.


6 anos
            Hoje, olho para o lado e vejo uma senhorinha gorda, desajeitada (não, isso não ficou na infância canina, ela continua desajeitada igual a mim), com os bigodes grisalhos e alguns pelos brancos pelo corpo. Toda a agitação dos áureos anos, hoje transformou-se em calmaria. Os olhinhos ainda brilham, ainda emanam um amor incondicional, mas estão ficando com a íris – que guarda tantas memórias e histórias – azulada e opaca. A ração tem de ser mole, pois já não consegue morder coisas muito duras. Muitas vezes ela dorme um sono pesado e me assusta. O que antes era algo trivial, como vir correndo e subir na minha cama, pisoteando meus pés como se fossem de borracha, hoje já não é tão fácil; há vezes em que tenho de ajudá-la; ela fica em pé, com as patinhas dianteiras na beirada da cama e me olha com aquele ar de “me ajuda?”. 


7 anos
            É lógico que eu te ajudo, minha parceira! Te ajudo, te cuido, te mimo, te amo e sou capaz de qualquer coisa por você! Começamos nossa história juntas, você cresceu comigo, me deu colo, me impediu de inúmeras burradas com seu jeitinho doce, me protege até de mim mesma, me trouxe uma alegria que não sei mensurar, me conquistou por completo com seu chorinho constante e seu olhar dengoso, com seu jeito preguiçoso. Lambe minhas lágrimas e festeja minhas alegrias. Como posso não te amar incondicionalmente?





8 anos
            Hoje, vivendo a aposentadoria, já velhinha e mais preguiçosa do que sempre foi, ela me faz ficar com o coração um tanto quanto apertado. Não consigo, por maior que seja meu esforço, imaginar minha vida sem os pisões que ela dá nos meus pés, sem seu latido senil ao me ver chegar, sem seus arrotos a um palmo do meu nariz. Não sei se ainda lembro como é dormir sozinha na cama, sem ter de me posicionar em forma de “S”. Não consigo mais tomar banho sozinha, sem tê-la deitadinha no canto mais distante possível do box me olhando com cara de “você não vai me dar banho, né?”.


9 anos
            Sou grata, muito grata ao Universo por tê-la colocado em meu caminho. Sou grata por ter descido no ponto errado naquele 16 de Agosto de 2004, ter ido ao pet shop e a visto deitadinha, dormindo enroladinha – como dorme até hoje – e trazido para casa comigo. Sou grata por tudo o que aprendi e aprendo com ela dia após dia. Sou grata por ela me fazer sentir esse amor absurdo, que me dá um nó na garganta. Sou grata pela sua confiança. Sou grata por ela estar sempre ao meu lado, por ser minha “parceira de crime”, minha preguiça ambulante, meu pedacinho de dengo e manha, minha mocinha linda, com o olhar mais doce que já tive a oportunidade de ver.




10 anos
            Obrigada por existir, minha Flor de Lótus! Obrigada por encher minha vida com poesia a cada latido, a cada abanar de rabo, a cada manha, a cada olhar terno, a cada gesto de confiança. Você me faz ser uma pessoa melhor a cada dia. Você me mostra o quão preciosa é a vida com amor.
Peço que o universo te dê muita saúde e muitos anos de vida, pois ainda temos muitas coisas pela frente e você vai sempre comigo, não importa aonde nem como. E mesmo depois que você cumprir sua missão aqui nesse mundo, tenho certeza que nos reencontraremos e você virá correndo para os meus braços, como faz desde que chegou em minha vida, todas as vezes em que chego em casa.





11 anos

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