“Fique”, “Não
vá agora”, “Volte”, “Eu gosto de te ter por perto”, “Sorrio quando leio seu ‘bom
dia’ na mensagem de texto”, “Sinto ansiedade antes de te encontrar”, “Tenho
medo de perder você”, “Morro de ciúme de tal pessoa”. São tantas coisas que as
pessoas deixam de dizer mesmo com a incerteza a respeito do amanhã e da possibilidade de um momento que seja "adequado", que me
pergunto se realmente vale a pena esse silêncio, sejam quais forem as
justificativas.
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Certa vez,
durante duas ou três aulas da faculdade, foi debatido o tema dos tempos Presente,
Passado e Futuro. O autor defendia que o Passado trazia segurança, mesmo que
narrasse fatos ameaçadores, pois eram apenas história, não ofereciam riscos ao
Presente nem aos planos para o Futuro, que por sua vez é incerto, assusta,
amedronta, não permite que sintamos segurança, não garante a chegada ao ponto
desejado; e o Presente, o aqui e agora, as nossas ações, os milésimos de
segundo em que realizamos nossas tarefas para chegarmos ao futuro, e que
imediatamente torna-se passado, fazendo com que um novo Futuro apareça.
Trazendo
tais reflexões à minha vida, concluo que Presente, Passado e Futuro, numa
dialética bastante complexa, acabam tornando-se uma coisa só; quem sou e o que
faço e desejo hoje é fruto do que me
aconteceu ontem, o futuro que
idealizo é produto do que meu ontem, enquanto potência, fez ser meu hoje, que
corresponde à passagem ao ato, ao futuro.
Muitas
vezes, nesse jogo muito louco entre presente, passado e futuro, no intervalo
entre potência e ato, passamos por situações traumáticas que nos fazem tomar
posturas diferentes diante de uma possível próxima situação que se assemelhe à
que nos foi desagradável. Até aí, tudo bem. Mas quando nos damos conta de que
por mais parecidas que sejam as situações, serão diferentes as pessoas e circunstâncias que nos cercam, surge a dúvida: “será que está certo agir
assim, transferindo para o futuro, numa situação semelhante à que já vivi, as atitudes que gostaria de ter tomado
diante daquela que já foi massacrada pelo relógio? ”. Não, não está certo. E
não é errado não estar certo, pois é através dos erros que vem a sabedoria. Creio
que não esteja certo, porque, se as pessoas e circunstâncias são diferentes,
mesmo que a situação seja absurda e abusivamente semelhante, minhas atitudes e
decisões deveriam ser adequadas à realidade tal qual se apresenta.
Quantas
oportunidades são perdidas nessas transferências, nessas tentativas incoerentes
de “remissão de erros”? Quantos perdões deixamos de liberar, quantas segundas
chances vão para o ralo, quantas alegrias dispensamos simplesmente pela vaidade
de batermos no peito e dizermos “eu não quebro mais a cara diante de tal tipo
de pessoa”?
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Da mesma
forma que num piscar de olhos o presente se torna passado e nos impulsiona ao
futuro, as oportunidades direcionam nossos caminhos na vida e uma escolha feita
numa fração de segundo pode mudar nosso rumo para sempre. Não consigo conceber
a ideia de "destino”; o que alguns gostam de chamar de “destino”, eu chamo
de Produto das Minhas Escolhas. “Ah, mas como explicar o fulano que encontrei
por um acaso numa rua X, em tal evento num dia chuvoso em que eu não esperava
que nada acontecesse?”. Simples: se o tal fulano estava na rua X, num dia
chuvoso, naquele evento, foi porque os gostos do tal fulano são compatíveis aos
seus, porque da mesma forma que você optou por estar naquele local, ele também
optou. Não consigo ver lógica num simples encontro ao acaso, coincidente. Posso
estar sendo cartesiana demais? Sim, posso. Porém, tal visão faz com que a vida
faça mais sentido, seja mais fascinante.
Creio que
se conseguíssemos compreender que encontramos o fulano na rua X, naquele dia em
que nada estava previsto para acontecer, foi porque nossas escolhas nos levaram
até ali e não vale a pena deixar que a oportunidade de ter bons momentos ao
lado dele seja levada pelo vento porque a vaidade e o ego esqueceram a porta
aberta hoje ao saírem correndo para nocautear as feridas do passado numa rua
parecida.
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