quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Crônicas do Cotidiano VI - Meu ninho

            Semana passada, navegando no Spotify, conheci uma música do Emicida com a Vanessa da Mata, Passarinhos. Foi amor à primeira vista. A letra me deixou bastante reflexiva e a melodia me encantou. A harmonia com que as notas dançam umas com as outras, a suavidade nas vozes, a levada gostosa e leve. Sem muita concordância, sem maiores floreios, a música passa a mensagem de maneira suave, delicada e direta.
            Aproveitando esse clima “natalino” – embora eu prefira chamar de consumista e hipócrita – que pressupõe a valorização imediata das relações, dos valores considerados importantes pela nossa sociedade e embalada pela “vibe” da música, fiquei pensando sobre essa busca incessante que temos, enquanto humanos, por um ninho, um lar, um colo para ser só nosso, um sorriso que tire a graça dos demais, um olhar que nos deixe completamente desarmados, uma voz que nos faça sorrir com a mesma inocência com a qual sorríamos enquanto crianças; a busca de alguém que traga nossa inocência à tona e nos desperte todos aqueles sentimentos que nos faziam sentir completos enquanto crianças. E não me refiro a cônjuges, me refiro a relações no geral.

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            É muito bom olhar ao redor e ver pessoas que me fazem sentir especial, querida, importante, amada. É gostoso trocar mensagens com minhas amigas e rir até doer a barriga. Me dá segurança saber que sempre que precisar terei um colo para acalmar meu coração. Fico encantada com a magia das relações humanas; vivenciar a transformação de uma relação já meio esfarrapada – como a que sempre tive com minha mãe – transformando-se em uma relação bonita, adquirindo perfume doce e cores vivas e vendo os brotinhos de sentimentos bonitos crescendo.

            Mesmo com o mundo vivendo esse eterno colapso, consigo me sentir segura, cercada por relações baseadas em sinceridade, confiança, alicerces firmes e bem fincados no solo, mas que me fazem tocar as nuvens, pois me permitem ser exatamente como sou. Consigo ter forças para me tornar, a cada dia, uma pessoa melhor, me fazer mais e mais feliz, contribuir para que essas relações sejam cada vez mais belas e fortes, imunes à erosão do tempo.
            Hoje, posso dizer que mesmo com todas as adversidades da vida, com os tropeços em degraus ocos, sou extremamente feliz e grata pela minha vida. Posso viver despida de máscaras e fantasias, posso andar descalça na chuva sem medo de ser atingida por emoções, posso sentir a pele arrepiar sem entrar em pânico. Posso viver meus ricos 22 anos, deitar e rolar na magia de ver a vida com leveza e brincadeiras idiotas que roubam risos gostosos de quem eu amo, que fazem minha cadela abanar o rabinho e fazer manha, que me fazem sentir bem sendo exatamente quem e como sou.
            Em suma, posso dizer que estou construindo meu ninho dentro de mim mesma. Posso dizer que sou grata à vida por ter colocado em meu caminho pessoas imunes à liquidez da sociedade em que vivemos.
            Sou grata por ter minhas amigas escolhidas a dedo.
            Sou grata por estudar o que amo.
            Sou grata por minha família.
            Sou grata por acordar todos os dias e ver minha cadela explodir de alegria.
            Sou grata por poder sorrir e amar de forma leve.
            Sou grata por ser produto da minha história, por ter conseguido aprender a mudar a cadeira de lugar e ver o pôr do sol quantas vezes quiser e por quantos ângulos quiser.
            Sou grata até pelos espinhos que me machucaram tantas vezes e por tanto tempo, porque eles me ensinaram o valor das flores.

            E só para não perder o hábito de fazer confusão no que escrevo:
                        Sou grata por ter apre(e)ndido a gratidão e feito dela meu ninho!


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