quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Crônicas do Cotidiano I - Chuva, risadas e eco-bitucas

       Como todos os dias, terça-feira desci para fumar com uma amiga. Depois de xingar por não conseguir compreender o porquê de ter mais ou menos umas 20 catracas na faculdade e apenas 5 disponíveis para uso, saímos e ficamos em pé conversando ao lado daquele objeto amassado e fedorento que chamam de cinzeiro e que a faculdade gentilmente disponibiliza para os alunos. Enquanto conversávamos, eu ia mudando de posição de acordo com a direção que o vento escolhia para acariciar a face de quem estivesse por lá, já que minha amiga não fuma e mesmo que fumasse, não é merecedora da divina fragrância do produto fumígeno com mais de 4.700 substâncias tóxicas. 

            Entre 3 ou 4 assuntos sendo conversados simultaneamente, decidimos sentar em uma espécie de bancos que fizeram com páletes e colocaram meia dúzia de plantas, num estilo eco-minimalista - se é que existe esse estilo – que me soa como uma tentativa de levar algo sustentável e ecológico ao edifício de 13 andares com janelas de vidro espelhado sustentado por vigas de algum tipo de metal. Os vãos das madeiras do chão são decorados por bitucas de cigarros, das mais variadas, filtro amarelo, branco, preto, vermelho, para todos os gostos! Fiquei me perguntando o porquê de terem tantas lindas bitucas decorando o espaço “eco”, sendo que a menos de um metro havia um daqueles cinzeiros lindos, com água empoçada.
            Conversamos sobre nossas angústias (sempre tão parecidas que se combinássemos, não seríamos capazes de viver situações tão iguais) e sobre minhas famosas “bolas fora”, coisas que burlam o filtro e saem da minha boca por pura impulsividade, me colocando em saias justas que ficam praticamente saias a vácuo, porque eu não percebo. No fim das contas, acabamos dando risada de nossos próprios problemas, e seguindo em frente, sabendo que podemos contar uma com a outra. Meio a indecisões, ansiedade e adoráveis bitucas no chão, resolvemos eternizar aquele momento em uma fotografia. Após umas 5 ou 6 tentativas, a chuva estava dando o ar de sua graça e ambas tínhamos tarefas a serem cumpridas, finalmente conseguimos uma foto que não fosse ingrata.

            A vida não é e nunca será perfeita, livre de empecilhos, de “pedras no caminho”, mas são esses “pequenos” momentos que fazem com que ela seja tão mágica e sedutora. Ter uma amiga dessas “ponta firme” que passa mal de rir junto comigo, um cigarro na bolsa, levantar e perceber que estava com a calça úmida e ter dado várias risadas daquelas tão gostosas são coisas impagáveis! Sim, estava chovendo, cheirando a cigarro e chão de cimento molhado, ventando frio, os cabelos ficando arrepiados por conta das gotas d’água e do vento, mas eu me senti feliz e plena, dona de mim e da minha vida, sabendo enxergar, viver e valorizar as coisas boas mesmo de situações repletas de motivos para me fazer ficar com cara de bunda o resto do dia.

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