segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Momentum

Conforme ela seguia as curvas da estrada rodeada por um verde indescritível, eu não conseguia avaliar com precisão a paz e alegria que se instalaram dentro de mim.

            - Hey, onde você está? – Disse, sorrindo e colocando a mão em minha perna, apertando meu joelho.
            - Estava longe, meu bem. Muito longe. – Respondi, colocando minha mão sobre a dela e entrelaçando nossos dedos.



            - Ei, dorminhoca, chegamos.

Abri os olhos e me deparei com seu sorriso ao meu lado esquerdo, seus dedos entre meu cabelo e uma paisagem deslumbrante ao lado direito; areia quase branca, fofa, água transparente, azulada, cheiro de mar.
Já devidamente acomodadas, ela esticou a esteira ao meu lado e deitou-se. Nos olhamos e apenas sorrimos. Fechei os olhos, suspirei e me entreguei aos raios do Sol tomando cada pedacinho do meu corpo.
Tentei entender como era possível alguém ser dona de uma simplicidade tão sofisticada, desprovida de maiores luxos e frescuras (daquelas que nos enchem os olhos) e ainda assim ser tão absurdamente envolvente e encantadora. Ela era simplesmente ela, e isso a fazia tão encantadora, tão simplesmente encantadora.
Ela era como aquela orquídea na sala. Sozinha, sem enfeites, sem mais flores, dentro de um vaso transparente. Enfeita, perfuma, colore, encanta, embriaga.
Baudelaire sempre foi um de meus poetas preferidos. Um dos que me roubam o coração. Suas palavras sempre vieram como flechas. E em um de seus escritos, ele diz:

É preciso que te embriagues sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude?
A teu gosto, mas embriaga-te.
[...]
Para não ser como os escravos martirizados pelo tempo, embriaga-te.
De vinho, de poesia ou de virtude.
A teu gosto.

            Ela me deixava completamente embriagada. De poesia e de virtude, de doçura e voracidade, de inteligência e simplicidade, de instinto e vulgaridade.


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