Para tudo, uma dieta, um
preconceito – ou devo dizer opinião? -, uma cartilha comportamental, uma
ofensinha, uma olhada torta, uma piadinha de escárnio. Parece que quanto mais a
espécie “evolui”, mais retorna à selvageria. Mãe pegando faca para filha que,
numa brincadeira, diz ser homossexual. Funcionários CLT aclamando governo
neoliberal. Estudantes tendo que ocupar suas escolas para terem garantido o
direito ao ensino. Abaixo assinados pedindo o fim da morte de animais em testes
de produtos de beleza. Carros estacionados em vagas para deficientes. Taxas
altíssimas de suicídio. O dólar alto choca mais do que famílias sem comida na
mesa. Mulheres hostilizadas e mortas a cada minuto, de formas inimaginavelmente
violenta. Crianças e adolescentes mortos pelo crime vistos como lixo que saiu
do meio do caminho. Transexuais apedrejadas e mortas, porque na sociedade, “viado
não tem vez”. Polícia militar cegando e aleijando cidadãs e cidadãos
deliberadamente – e sendo elogiada pelos (de)feitos.
Meio a uma verdadeira diarreia de
falsos moralismos, vidas vão se perdendo, dignidade vai sendo dissolvida pelo
ácido da engrenagem capitalista, ter opinião virou sinônimo de manifestar
descaradamente os tipos mais nocivos – e nojentos – de preconceito.
Rivotril, Sertralina, Fluoxetina,
Dizepam, Bromazepam, as balinhas mágicas para auxiliar no controle às dores da
alma que não podem ser sanadas, porque fazer terapia – e se permitir
simplesmente sentir - AINDA é coisa de louco e descer de cima do muro é um
absurdo, girar no sentido contrário é massacrante demais – falar mal de quem o
faz e usufruir dos benefícios da coragem destes ainda é mais fácil. Isso sem
mencionar a famigerada Ritalina, a droga para “adultificar” as crianças, a
droga do bom comportamento, da submissão, da roupa limpa, do silêncio e ordem
em casa, da anestesia da falta que a família faz; depois de tanta luta para que
a infância fosse compreendida como uma fase do desenvolvimento humano, junto ao
capitalismo, vem a necessidade de ter mini adultos em casa, que não demandem
tempo nem paciência, pois o tempo urge e é preciso “correr atrás”, porque no
futuro, os pequenos, já crescidos, agradecerão a qualidade – financeira - de vida que lhes foi proporcionada, mesmo que
para isso tivessem a infância massacrada.
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Os
sentimentos só são belos nos posts no Facebook, nas músicas e nos filmes,
porque na vida real, o que conta é a capacidade de ser indiferente, obediente e
disforme – para poder assumir a forma que for mais conveniente e trouxer mais
lucro.
Na selva de concreto, cada vez há
menos lugar para aquilo que nos torna humanos. Aquela máxima de Nietzsche “torna-te
quem tu és”, foi substituída por “torna-te quem for te dar maior lucro e poder”,
o que é imensamente triste, porque forma uma sociedade de mentira, pré-fabricada,
que não aceita o diferente, não lida com emoções nem sentimentos, ignora as
subjetividades. O ser humano conseguiu criar uma sociedade que agride a si
mesmo, infelizmente. Foram criados conceitos universais e cristalizados de
certo e errado, fazendo com que todos entrassem numa briga insana e eterna para
serem “a pessoa certa, no local e hora certos, para a função certa”. Não ser a
pessoa “certa”, que está no local e hora “certos” não é errado! É justamente
isso que nos faz humanos!
Não
sinta - racionalize. Não pense - reproduza. Não aja – obedeça.